Ser a mudança que quero ver no mundo basta?
A mudança social só acontece se houver mudança pessoal. Mas apenas a mudança pessoal não é suficiente para que haja mudança social.
No cenário atual, em que enfrentamos o aquecimento global, o consumo desenfreado de recursos naturais não renováveis, a degradação de solos agricultáveis, o aumento do desmatamento, o ressurgimento de pensamentos xenófobos nacionalistas e fascistas pelo mundo, a concentração cada vez maior de riqueza, o aumento da pobreza e a banalização de tudo isso – torna-se cada vez mais urgente a conscientização sobre a importância de pensarmos coletivamente transformações estruturais, sociais e culturais com novos padrões de consumo, partilha justa e cuidado com o planeta.
Mudanças nos padrões estruturais e sócio-culturais só acontecem quando há transformações em comportamentos individuais. Porém, a mudança pessoal isolada não é suficiente para que haja mudanças sociais ou culturais.
Veja o exemplo da minha avó: considero que ela estava à frente de seu tempo. Teve cinco filhos, duas meninas e três meninos. Todos ajudavam na limpeza e organização da casa, aprenderam a cozinhar, costurar, fazer tricô, crochê – tanto as meninas quanto os meninos! Uma raridade na década de 40, 50! Não fazia questão que seus filhos a chamassem de senhora – dizia que respeito é diferente de obrigação ou medo. Valorizava o diálogo, a conexão com os filhos e não a simples obediência e submissão. Ela reciclava o lixo, fazia compostagem e era vegetariana. Seus filhos cresceram sem comer carne, todos com muita saúde. Era ativa em sua comunidade, ajudava quem tinha menos recursos, mesmo ela própria não tendo tantos.
Admiro muito a coerência com a qual ela buscava viver a vida, transformando em ações concretas aquilo em que acreditava, mesmo indo contra a corrente do que a maioria das pessoas ao seu redor fazia. Isso não devia ser muito fácil – nossa família era considerada "meio esquisita", recebida com certo estranhamento por ser "diferente" e, infelizmente, as ações da minha avó não tiveram uma influência muito significativa num âmbito social mais amplo.
Mesmo alguns de seus filhos deixaram de ser vegetarianos e de se preocupar com uma alimentação saudável quando cresceram, os homens depois que casaram nunca mais cuidaram da casa ou fizeram crochê e não sei o quanto a educação que minha avó deu a seus filhos influenciou a educação dos netos e bisnetos. Tenho certeza que suas ações influenciaram de uma forma ou de outra as gerações seguintes da família. Mas penso que toda uma vida não é suficiente para que haja uma transformação social se não há um número considerável de outras pessoas caminhando junto, na mesma direção.
Sem dúvida, nossas ações pessoais são importantes para a construção da coletividade. Vejo muito valor na frase de Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo". A soma do que cada um faz individualmente constitui a forma como nos organizamos socialmente, como interagimos e nos relacionamos, como estabelecemos nossas instituições sociais e como nossa cultura se forma.
Porém, apenas a mudança de um indivíduo não é suficiente para que haja mudança social. "Uma andorinha só não faz verão", como diz o ditado. Para que haja mudanças significativas e impactantes é necessário existir uma massa crítica, uma quantidade mínima de pessoas para que uma nova dinâmica social possa se dar em cadeia de modo auto-sustentável.
Por isso considero essencial o engajamento, a influência ativa e a organização de ações coletivas em relação às questões públicas, sociais e ambientais que afetam a todos nós. Importante conhecermos nosso poder pessoal, capacidade e possibilidade de influenciar e nos engajarmos coletivamente expandindo nosso círculo de influência com ações estratégicas e planejadas.
Uma andorinha sozinha pode influenciar muitas outras e juntas fazer um belo verão!
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