Como minha avó enganou a Morte
Esta semana faz oito anos que minha avó Olga faleceu. Lembrando dela, procurei este texto, uma fantasia baseada em fatos verídicos, escrita com muita criatividade pela minha mãe, Eleonora Sampaio Caselato. Retrata com humor a inteligência e a astúcia da minha avó, que amava a vida e tinha uma enorme capacidade de adaptação e de auto preservação.
"Naquela noite de 1957, quando o Aderbal (meu pai) teve uma séria crise de úlcera estomacal, a Morte fez uma reunião com os adultos da família: Aderbal, Maria Carolina (minha avó) e Olga (minha mãe). Apresentou seus argumentos para levar consigo o chefe da casa: tinha sido um boêmio, não tinha cuidado bem da saúde como devia até casar-se com Olga e fumava cerca de três maços de cigarro por dia.
As duas se apressaram em fazer a defesa do pretendido pela Morte. Contaram, com muitos exemplos, como ele tinha mudado muito depois do casamento, como se importava com os filhos, como dava duro para manter a família. A Morte foi amolecendo, mas ainda insistia que deveria levá-lo, até que o próprio Aderbal conseguiu fazê-la mudar de ideia, alegando que seu caçula tinha apenas cinco anos, que ele gostaria muito de vê-lo formado, homem feito.
Mesmo assim, a Morte quis, em contrapartida, fazer um acordo. Pediu à Olga que se sentasse em frente à velha máquina de escrever Triumph e datilografasse o que iria ditar:
Compromisso de Morte
Daqui 20 anos volto para buscá-lo. Espero que o caçulinha não fique enrolando, estude bastante e esteja formado aos 25. Vocês duas irão depois, de dez em dez anos.
Olga perguntou se poderia explicar melhor as datas. A Morte consentiu, e ela escreveu:
Ficaremos, então, assim combinados:
Aderbal, em 77; Maria Carolina, em 87; e Olga, aos 97.
A Morte leu, não percebeu a troca de preposição que a esperta Olga tinha feito e concordou.
Aderbal partiu em 19 de abril de 1977.
Maria Carolina foi levada em 6 de novembro de 1987.
Olga nos deixou em 15 de novembro de 2011, aos 97 anos.
Dessa forma, D. Olga enganou a Morte e ficou entre nós 14 anos mais do que a Morte queria.
Sorte a nossa!"
Por Eleonora Sampaio Caselato
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